Psicóloga analisa as consequências de ser alvo de piadas e chacotas
Em todos os tempos se presenciou na escola, ou mesmo nos cursos
complementares, alunos que são chacoteados pelos colegas o tempo todo
com brincadeiras muito desagradáveis, fazendo com que estes não tenham a
menor possibilidade de reagir ou mesmo reclamar. O escolhido do grupo
faz de conta que não liga, brinca um pouco para disfarçar a vergonha,
até pede para os colegas darem um tempo, mas nada adianta: ele é a bola
da vez e nada pode mudar isso.
Revidar não adianta. Se o alvo
da chacota se irritar ou reagir, a chateação vai aumentar ou mesmo
piorar. Se ele fizer de conta que não se importa, o grupo vai
"caprichar" na atormentação para provocar alguma reação. Esse
comportamento é chamado de bullying.
O bullying
compreende todas as formas de atitudes agressivas, repetidas e
intencionais que ocorrem sem motivação aparente, adotadas por um ou mais
estudantes contra outro. Essas ações causam angústia e dor, e são
mantidas dentro de uma relação desigual de poder através de apelidos,
ofensas, gozações, provocações, humilhações, exclusão, isolamento,
intimidação e perseguições. Além de tiranizar, aterrorizar e ferir o
aluno por meio de chutes, tapas, roubos e outras ações de caráter
violento.
A maioria das escolas negam que isso acontece em
suas salas. Dizem que isso é coisa da idade, que os colegas só estão
brincando, que não podemos levar a sério as brincadeiras de mau gosto.
Claro que em muitos momentos os alunos são inadequados uns com os outros
sem a intenção de magoar; as brincadeiras passam dos limites; os
apelidos são carinhosos ou nem tanto, mas não ofendem de fato, e isso é
coisa da idade sim.
Mas do que estamos falando é do apelido
jocoso, da brincadeira que ofende e deprecia e que acontece todos os
dias. Do prazer mórbido que os colegas sentem em maltratar o outro e de
vê-lo sofrer e, com isso, se sentirem "poderosos" e "donos" do colega.
Também da humilhação perante as risadas e da exclusão declarada dos
grupos, que marca o ano escolar do começo ao fim.
Não existe regra definida para ser um alvo de bullying,
todos são alvo em potencial. Basta marcar por qualquer diferença ou ter
alguma dificuldade, ou mesmo, ser uma pessoa mais sensível.
Quem adota esse tipo de comportamento são normalmente aqueles
indivíduos que dispõem de poucos recursos emocionais, não se sentem
queridos, não têm uma família estruturada, se sentem abandonados e
menosprezados, e esse modelo normalmente é aprendido com seus pais e
parentes.
Para esses indivíduos, a prática do bullying
é, de alguma forma, motivada pela necessidade de incluir alguém em sua
realidade, mesmo que precariamente, pois não desfruta de um aparato
atraente, tanto emocional quanto intelectual, para atrair e manter as
pessoas ao seu lado de uma maneira positiva e honesta. Existe uma grande
possibilidade de, na maioria dos casos, esse indivíduo se manter
violento e infeliz e sem possibilidade de se relacionar adequadamente,
podendo se marginalizar.
O que potencializa definitivamente
uma pessoa a se tornar alvo é a fragilidade emocional associada à
diferença de padrão. Estar fora do padrão exige um fortalecimento dos
recursos emocionais para enfrentar as reações dos colegas e, muitas
vezes, o indivíduo acaba sucumbindo e se abatendo, o que gera um
empobrecimento de sua autoestima e o impede de procurar ajuda ou reagir.
Com isso, a insociabilidade e a passividade aumentam, fazendo despencar
tanto o rendimento escolar, quanto a frequência e o interesse na
escola.
Este quadro pode levar os jovens a desenvolverem uma série de doenças emocionais ou físicas devido ao stress a
que estão expostos diariamente entre elas: depressão, síndrome do
pânico, gastrite, colite, asma, bronquites e distúrbios alimentares.
Como podemos perceber, carrasco e vítima traduzem suas fraquezas em
atitudes opostas estabelecendo uma relação de co-dependência
aterrorizante. Essa situação vivida no ambiente escolar e de lazer é
capaz de contaminar, ou mesmo, inviabilizar todos os desdobramentos que
as relações grupais são capazes de favorecer como, por exemplo, as
escolhas futuras e a profissão.
Para que esse tipo de conduta
seja neutralizada nas escolas deve haver um esforço de pais e
orientadores, pois os danos aos alvos são muito severos. Os pais devem
avisar professores e orientadores se suspeitarem que seus filhos sejam
vítimas do bullying e não devem permitir que a questão seja mal
investigada ou sub-valorizada, pois é muito difícil para as escolas
admitirem esta situação.
Aprendizagem é um processo muito
difícil que deve promover a apreensão dos fatos, do conhecimento e da
possibilidade de ser feliz e a vivência traumática não deveria fazer
parte do pacote que contratamos na escola.
Silvana Martani.
Psicóloga especialista em obesidade Clínica de Endocrionologia
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