quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Corrupção: qual é a sua ATITUDE diante desta realidade?

Leonardo Boff*


A indignação generalizada face à corrupção no Brasil e no mundo está dando lugar à resignação e ao descaso. Pois a impunidade é tão vulgarizada que a maioria já descrê de qualquer solução.


Sobre esse fato, a teologia tem algo a dizer. Ela sustenta que a atual condição humana é dilacerada e decadente (infralapsárica, se diz no dialeto teológico), consequência de um ato de corrupção. Segundo a narrativa bíblica, a serpente corrompeu a mulher; a mulher corrompeu o homem; e ambos nos deixaram um legado de corrupções, a ponto de Deus "ter-se arrependido de ter criado o ser humano na Terra", como nos lembra o texto de Gênesis (6,6). Somos filhos e filhas de uma corrupção originária.


Alegava-se, nos espaços cristãos, que todo mal deriva dessa corrupção originária, chamada de pecado original. Mas essa expressão se tornou estranha aos ouvidos modernos. Mesmo assim, ouso resgatá-la, pois contém uma verdade inegável, atestada pela reflexão filosófica de um Sartre e mesmo pelo rigorismo filosófico de Kant, segundo o qual "o ser humano é um lenho tão torto que dele não se podem tirar tábuas retas".

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Importa anotar que é um termo criado pela teologia. Não se encontra como tal na Bíblia. Foi santo Agostinho, em diálogo epistolar com são Jerônimo, que o inventou. Com a expressão "pecado original", não pretendia falar do passado. O "original" não tinha a ver com as origens da história humana. Com ela, santo Agostinho queria falar do presente: a atual situação do ser humano, em seu nível mais profundo, é perversa e marcada por uma distorção que atinge as origens de sua existência (daí "original"). Fez a sua filologia da palavra "corrupto": é ter um coração (cor) rompido (ruptus, de rompere).

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Somos portadores, portanto, de uma rachadura interna que equivale a uma dilaceração do coração. Em palavras modernas: somos diabólicos e simbólicos, sapientes e dementes, capazes de amor e de ódio. Mas, por curiosidade, perguntava santo Agostinho: quando ela começou? Ele mesmo responde: desde que conhecemos o ser humano; desde as "origens". Mas ele não confere importância a essa questão. O importante é saber que, aqui e agora, somos seres corruptos, corruptíveis e corruptores. E que cremos em alguém, o Cristo, que nos pode libertar.

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Mas onde se manifesta mais visivelmente esse estado de corrupção? Quem nos responde é o famoso e católico Lord Acton (1843-1902): é nos portadores de poder. Enfaticamente afirma: "Meu dogma é a geral maldade dos homens de poder; são os que mais se corrompem". E fez uma afirmação sempre repetida: "O poder tem a tendência a se corromper, e o absoluto poder corrompe absolutamente". Por que, exatamente, o poder? Porque é um dos arquétipos mais poderosos e tentadores da psique humana; dá-nos o sentimento de onipotência e de nós sermos um pequeno "deus". Por isso, Hobbes, no seu "Leviatã" (1651), nos confirma: "Assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder, que cessa apenas com a morte; a razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder".


Esse poder se materializa no dinheiro. Por isso, as corrupções a que estamos assistindo envolvem dinheiro. Diz um dito de Ghana: "A boca ri, mas o dinheiro ri melhor".



Não achamos cura para essa ferida. Só podemos diminuir-lhe a sangria. Creio que vale o método bíblico: desmascarar o corrupto, deixando-o nu diante de sua corrupção, e a pura e simples expulsão do paraíso, quer dizer, tirar o corruptor e o corrompido da sociedade e metê-los na prisão.



*Teólogo e escritor

Fonte: O Tempo (MG)   POR ENGANO DE MUITOS CIDADÃOS, QUE PENSAM QUE A CORRUPÇÃO ESTÁ PRESENTE SOMENTE NO MEIO POLÍTICO, ESQUECEM DA CORRUPÇÃO NA FAMÍLIA, NO BAIRRO, NA IGREJA, NAS EMPRESAS... NEM AO MENOS SE DÃO AO TRABALHO DE CONHECEREM OS CANDIDATOS QUE POSSUEM PARA OCUPAR OS CARGOS DE SUA CIDADE. ORA, O JULGAMENTO PRECIPITADO OS FAZ PERDER A OPORTUNIDADE E A VOZ PARA REALMENTE ESCOLHER, OPINAR E MUDAR! COBRAR TAMBÉM... NÃO SE ANTECIPEM A JULGAMENTOS SEM UMA ANÁLISE CUIDADOSA DOS CANDIDATOS DE SUA CIDADE, DE SUA ESCOLHA DEPENDE O FUTURO DE SUA CIDADE!   Fé, consciência e luta!
Prof.ª Élida Barros.

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