quinta-feira, 3 de maio de 2012

Memórias literárias

Com os olhos do coração



Aluna: Nicole Aparecida Andrade da Silva (Olimpíada de Língua Portuguesa)

Dizem que os olhos são o espelho da alma. Fora as rugas do meu rosto, são os meus

olhos que trazem de volta de forma quase mágica, setenta e seis anos de um passado cheio

de alegria, tristeza e luta.

Sou Maria, não uma Maria “cheia de graça”, mas cheia de história!

Nasci no interior de São Paulo, em Santo Antônio do Pinhal. Passei a minha vida inteira

em um bairro chamado Renópolis, que hoje traz poucos vestígios do passado, exceto as

estradas de terra, que trazem de volta, no cheiro da poeira, meus tempos de outrora.

Nasci em uma família humilde de oito irmãos. Fui uma criança que teve mais trabalho que

diversão. Naquele tempo, os meninos aprendiam desde cedo a trabalhar na roça, e as meninas,

a cuidar dos deveres de casa. Lembro-me, como se fosse hoje, de que, com apenas dez

anos, eu subia em um banquinho de madeira feito pelo meu pai para alcançar o fogão a lenha

e fazer o almoço para meus pais que vinham famintos da nossa plantação de verduras e frutas.

Acreditem, naquela idade eu já lavava a roupa da família inteira à beira do rio, que era

o ponto de encontro de todas as lavadeiras do bairro. Naquela época, as águas eram tão

cristalinas que conseguiam refletir a imagem perfeita da menina franzina que eu era. Hoje,

o mesmo rio, que lavava a minha alma cheia de sonhos, já quase não existe mais, vítima do

descuido e da erosão causada pelos moradores.

Que tempos aqueles! Sinto saudade das brincadeiras entre mim e meus irmãos, ao cair

da tarde e início da noite, onde o cenário perfeito para nossa imaginação era a nossa casa

de barro, o céu e a luz da lua. Era assim que nossa infância era iluminada, pois a luz elétrica

ainda era um sonho distante.

Enquanto brincávamos minha mãe preparava, com mãos de fada e à luz de lamparinas

– lâmpada com pavio abastecido com querosene –, o delicioso doce de goiaba com

frutas colhidas de nossa própria plantação. Aquilo era fruto proibido para nós, porque era

com o dinheiro da venda que a minha mãe comprava sapatos e tecidos para fazer nossas

roupas. Para as meninas, ela comprava a chita – tecido simples, barato e extremamentecolorido, que atualmente é usado em festas juninas e carnavais. Era um pouco transparente,


e lembro que isso me incomodava.

E foi nessa explosão de cores que nasceu uma nova Maria, a menina que trocou as

bonecas de pano pelo brilho do rouge e do batom cor de carmim – maquiagem muito usada

no meu tempo de mocinha.

Casei-me muito cedo, pois naquela época as meninas já nasciam com um único destino –

casar e ter filhos. E muitos filhos! E por isso muitas não estudavam e poucas aprendiam a escrever

o nome. É, os tempos mudaram! Hoje as moças se casam com a idade em que eu já era avó.

E foi assim que Deus me deu seis filhos, dos quais cuidei como pedras preciosas na

mesma terra onde nasci. Passei por muitos apuros. Depois de um dia inteiro de trabalho na

roça, passei muitas noites em claro bordando blusas de lã para vender em Campos do

Jordão – cidade turística de clima muito frio. Meu Deus, eu ia a pé, já que o meu bairro fica

próximo a essa cidade. Tudo isso para economizar o dinheiro do bondinho, trem que até

hoje faz o mesmo percurso e cujo preço da passagem era bem “salgado” – como chamávamos,

naquele tempo, o preço alto.

Graças ao meu amor de mãe, que não poupou nenhum tipo de sacrifício, formei duas

filhas professoras. Que orgulho! Antigamente, ser professora era uma profissão de destaque.

Não é como hoje, uma profissão tão desvalorizada.

Mas, infelizmente, a vida e o tempo nos dão bens preciosos e permitem que os percamos

também. Há dezessete anos, perdi um dos meus orgulhos, a Vera – minha filha mais

velha. Acho que enterrei com ela uma parte do meu passado, e, como consequência do

meu sofrimento, perdi a visão, resultado de uma diabetes emocional.

Hoje o mundo me parece obscuro, muito do que fui já não existe mais. Da minha janela,

viajo no tempo. Sinto o cheiro da poeira e de tudo o que plantei neste chão!

E é assim que consigo ser feliz de novo, porque passei a enxergar a vida com os olhos

do coração!

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Maria José dos Santos, 76 anos.)

19 comentários:

Élida Barros disse...

As atividades para a construção dos textos de
memórias literárias formam vínculos fortes e
humanizados. É que para escrever esses textos
os alunos estabelecem contato com uma pessoa
mais velha de sua comunidade e ouvem as
histórias, impressões e experiências de vida que
ela tem para contar. A narrativa traz uma visão de
mundo particular, em geral distante da realidade
dos alunos, que são convidados a recriar o que
ouviram, escrevendo um texto.
O lugar onde vivem – narrador e ouvinte – é objeto
para a reflexão dos dois: daquele que lembra e
daquele que pergunta para depois reconstituir
o que é lembrado. Trata-se de uma ação que
estabelece compromisso: “Eu conto a minha
história; você a salva do esquecimento”.
Esse compartilhar de experiências, num encontro
de gerações, está presente nos textos a seguir.
Um encontro permeado de memória e de espaço
de vivência comum que reforça identidades.

Camila e Daiara 2 ano A disse...

legal muito interessante

Camila e Daiara 2 ano A disse...

legal vitor e pedro

Blog da Gabiih disse...

Muito interessante. Gostei muito do texto é bem diferente.

Blog da Gabiih disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Blog da Gabiih disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
pedro vitor disse...

legal muito interessante

Sidney disse...

Raiane Ramos,Rafaella Lemos,Nathalia santos,Andressa Mendes,Taynara Migliorini E Leandra Pascelli: sétimo A
escola:Padre Joãozinho

Nós achamos esse texto bastante interessante, pois ele faz refletir sobre os acontecimentos reais na vida da autora como por exemplo:ela simplesmente sofreu bastante com os serviços de casa ao ser muito jovem e sua infancia foi um tanto rápida demais,ela tambem largou a boneca de pano pelos afazeres da mãe que foi trabalhar na roça.

giullia disse...

Nós achamos interessante a história da Nicole,ela teve criatividade ,em contar a história de sua vida desde sua infância até hoje.E ela ter cuidado dos seus filhos prometendo para eles um futuro melhor.E pela vida que teve conseguiu formar duas filhas com a profissão de professora,que era um orgulho para ela.e hoje vive muito feliz com sua família!! Nomes:Ana Lívia,Gessimara,Giullia e Wallace
Sala:7ºA

Blog da Gabiih disse...

é bem diferente o texto, pois fala da vida da autora.Ela sofreu bastante e conseguiu expressar isso perfeitamente no texto, Kássia Padovani e Gabriele Ferraz. :)

filipe disse...

Este texto é muito interesante,porque ele retrata um fato real de alguns anos atras em que não tinham muitas oportunidades para criançãs.
DE:Douglas Rocha, Lucas Adailton ,Marcelo FERNANDES

laismara disse...

esse texto retrata uma vida de uma mulher que conta sua historia deis de criança numa entrevista , retrata também um fato real de uns anos atras as crianças tinham que trabalhar e ajudar seus pais em casa

joycemara disse...

daniele e joycemara 8a legal muito interessante saber sobre os fatos reais antigos, que relata a vida de uma mulher que não tinha muito a escolher mas mesmo com todas as dificuldades era feliz!

marcia,jessica,daniela disse...

marcia,jessica,daniela:Nos achamos o texto muito interesante pois mostra uma história muito vivida porque ela sofreu muito para conseguir o que ela queria e nos achamos que ela batalhou muito na vida para dar para seus filhos uma vida melhor que a dela .Essa historia a gente não se ver em qualquer lugar.

filipe disse...

SUELEN E MICHAELA:AGENTE ACHOU O TEXTO MUITO INTERESSANTE PORQUE A PESSOA QUE ESTA CONTA TODA A SUA HISTORIA FALA QUE TEVE UMA INFANCIA DE MUITO TRABALHO E NAO SE DIVERTIDA E NAO TEVE SUA ADOLECENCIA PORQUE NAQUELA EPOCA SE CASAVA CEDO E TINHA MUITOS FILHOS POR ISSO NAO TINHA TEMPO PRA SI MESMO

Blog da Gabiih disse...

E uma historia muita interessante para quem leu com atençao.otexto fala sobre uma jovem menina que trabalhava desde cedo na roça lavando roupas de seus irmãos e seus pais,cozinhado fazendo tudo que seus pais mandan.Essa sim e uma menina muito inteligente adorei essa historia.

pedro vitor disse...

Achei o texto muito interessante conta a vida de uma pessoa que sofreu, mas nem por isso desistiu de sonhar. uma jovem menina que,trabalhou sem parar, para quando se casar e ter filhos dar um futuro melhor para eles e hoje consiguiu alcançar seu sonho.por isso apesar das dificudades nunca desista de sonhar.marisa e juliana 8a

laismara disse...

legal e bom achei interessate

luciana e carla disse...

2 sim para todas as pessoas que utilizam redes sociais
3 todos meios de comunicaçao
4 de blogs sociais
Helio
Higor
Nathan
Debora
9ºB