terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre a greve dos educadores públicos 2011

Lucas Morais
Os professores da rede estadual de educação, apesar de todos os ataques e derrotas que sofreram, deram uma aula histórica de luta aos mineiros e mineiras, em uma das mais belas e maiores greves da história do estado de Minas Gerais.
Diante de ataques vindos do judiciário, através do Ministério Público Estadual, do Supremo Tribunal Federal (via Cármen Lúcia, mineira), do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Roney de Oliveira), dos meios de comunicação (precisa dizer?), da Polícia Militar, de todos os políticos ligados à demotucanagem e até mesmo do ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), os professores lutaram através de mobilizações coordenadas pelo Sind-UTE/MG, e puderam contar com a solidariedade de estudantes, movimentos sociais como Movimento dos Sem Terra, Movimento dos Atingidos por Barragens e Via Campesina, escritores como Leonardo Boff, Luís Fernando Veríssimo e Fernando Morais, entre várias outras categorias de trabalhadores, como os da construção civil, os dos Correios, policiais civis.
112 dias de lutas, ataques e solidariedade
Foram 112 dias de greve e muita luta. As assembleias da categoria, realizadas semanalmente nas dependências externas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, contavam regularmente com a participação de 5 a 12 mil professores e simpáticos ao movimento. Por onde a marcha dos professores passou nas ruas de Belo Horizonte foi visto solidariedade, papéis picados jogados do alto dos prédios, transeuntes e motoristas que, apesar de se atrasarem dez ou quinze minutos para seus compromissos, demonstravam solidariedade.
As marchas culminavam ou na Praça da Liberdade, em frente ao Palácio da Liberdade, para protestar contra o autoritarismo tucano e seu assédio e violações contra as liberdades constitucionais dos grevistas, ou na Praça Sete, no centro da capital. Em ambos locais professores chegaram a se acorrentar para exigir que o governo negociasse o piso salarial. Na Praça da Liberdade estes professores acorrentados foram reprimidos com gás lacrimogêneo e cacetadas, com um professor tendo sido atingido na cabeça e levado ao hospital João XXIII.
No 111º dia de greve, um grupo de professores ocupou o plenário da Assembleia Legislativa e se acorrentaram junto às cadeiras do parlamento. A Tropa de Choque ROTAM da Polícia Militar ameaçou na madrugada retirar à força os professores. Um grupo de deputados liderados pelo petista Rogério Correia, diga-se, o único deputado a defender os professores a todo tempo, interveio para proteger os professores. A mídia tentava, a todo momento, provocar e criminalizar a greve junto à opinião pública.
Mubarak Anastasia “negocia”
O governo tucano de Antonio Anastasia, um Mubarak tecnocrata fabricado por Aécio Neves e seus comparsas, mesmo utilizando de todo o aparelho estatal estadual e federal, teve de ceder e reconhecer que está ilegal frente o Piso Salarial Profissional Nacional, que equivale hoje R$ 1.187,00 (Lei nº 11.738/08), enquanto o governo tucano pagava até então R$ 369,00 mais bonificações, algo que me recuso a chamar de salário, e sim um tiro no estômago.
No 112º dias da greve, o governo tucano aceitou negociar com o Sind-UTE com a condição da suspensão da greve e se comprometeu, por escrito, a pagar um piso de R$ 712,00, planos de carreira, e rever as demissões já realizadas. Uma negociação rebaixada. A greve foi suspensa pela categoria em assembleia.
O maior problema que os grevistas enfrentaram foi a própria apatia, temor e oportunismo dos fura-greves, pois todos os demais ataques os professores conseguiram dar o troco. Entretanto, os ataques do governo, feitos desde o princípio da greve, desencorajou muitos dos professores hesitantes em aderir à greve, com receio de perderem empregos, tal como de fato ocorreu nos meses seguintes.
Cruzada neoliberal contra a educação
O saldo? No dia 8 de outubro, quando os comandos regionais do Sind-UTE se reuniram para avaliar o avanço dos compromissos do governo tucano, a realidade era esta: Corte de salários, exoneração de diretores e vices, negativa de férias prêmio, substitutos recebendo sem trabalhar, tudo sem justificativas técnicas ou jurídicas. Uma verdadeira traição aos próprios compromissos firmados por escrito por representantes do governo. E assim os tucanos continuam sua cruzada contra a educação, a juventude, os trabalhadores, os mineiros e as mineiras.
Que um Movimento Fora Anastasia e Tucanos possa dar as devidas respostas populares nas ruas de nosso estado.
Lucas Morais é jornalista, editor brasileiro de Diário Liberdade e torce para que a Liberdade volte às ruas de Minas Gerais.

2 comentários:

patricia mc quade disse...

Olá Élida,

Sou professora da rede particular de ensino. Leciono na Escola da Serra português, literatura e espanhol. O processo de mercantilização da educação básica no Brasil é vergonhosa para nossa classe. Eu acompanhei a greve da rede estadual torcendo muito por vocês, mas sabendo quais são exatamente as leis que regem esse país: o capitalismo selvagem, a lei econômica em detrimento do desenvolvimento social. Esse ano, nós do Sinpro, também fizemos uma greve muito menor do que a de vcs. Quando crianças e adolescentes da classe média e seus ascendentes ficam sem aula, a família burguesa é a primeira a fazer pressão para que as negociações sejam feitas com base nos argumentos de: "tivemos xy de aumento nas mensalidades, por que os professores só recebem x de aumento dos salários?". a briga pelo aumento de salários foi positiva, conseguimos os 8% exigidos, mas todas as outras reivindicações foram colocadas como pauta para um discussão posterior organizada por uma comissão de representantes do sinpro e sinep. todas elas foram vetadas pelo sindicato da patronal. sei que nossa realidade é ainda melhor do que a de vcs, mas esses abusos têm que acabar. eu fui a várias assembleias que vcs fizeram na praça da Assembleia, participei de suas marchas e de abraços simbólicos na assembleia legislativa. acompanhei de perto o drama de todos os professores divulgando o máximo possível a luta pela educação pública. Meu sonho é ver a educação se transformar realmente em um direito constitucional na prática, que ela deixe de ser considerada uma empresa que vise lucro transformando a nossa juventude em produto do mercado, massificando ideias e legitimando saberes em detrimento das realidades e vivências de todos os segmentos da sociedade. Mas vejo que temos ainda um longo caminho de luta pela frente. Minha solidariedade a todos os guerreiros que mostraram a cara nesta greve, mesmo enfrentando seus medos de perder emprego, assédios financeiros e morais vindos do poder que deveria prezar por todos os nossos direitos e cidadania. Um abraço!

Patrícia Mc Quade.

Élida Barros disse...

Ótimo seu comentário, Patrícia! Realmente o governo não tem interesse em valorizar os educadores pois não quer que os alunos tenham liberdade de pensamento ou que pensem! Quanto pior for a valorização do educador, pior a educação, porque s melhores procuram o melhor! A realidade que presenciamos nas escolas é de abandono e descaso.