sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Excelente texto do professor Euler

Enquanto isso, em outro país...
Blog do Euler capta novo diálogo entre figurões da República- Trrrrimmmmm!!- Alô- Alô padrinho, sua benção!- Deus te abençoe, meu afilhado!- Onde você está, padrinho, estou precisando de você.- Estou aqui numa das ilhas das Bahamas...- Ilha de quê? De Bramas? Isto seria um bar, padrinho?- Não, afilhado, das Bahamas... Vim conferir pessoalmente o volume depositado para o caixa da nossa campanha em 2014.- Por falar em caixa para campanha, padrinho, estou preocupadíssimo com o piso dos educadores...- Piso dos educadores? O que é isso?- Já lhe falei da outra vez, padrinho. É aquele salário que os educadores agora cismaram que têm direito e ficam batendo na tecla que uma tal lei federal lhes assegura este direito.- Lei Federal? Que conversa esquisita é essa, afilhado? No nosso estado somos nós que ditamos as leis, já esqueceu?- Pois é, padrinho, até ontem era assim, mas agora o caldo tá esquentando. Por toda parte tem educador e uns apoiadores deles infernizando a nossa vida. Já não posso nem mais andar pelo extenso território que nós governamos.- Mas num pode ser, afilhado. E a nossa tropa de choque, não tá pagando um salário bom pra eles te servirem?- Claro que estou, padrinho, já prometi até um aumento de 100% até a Copa do Mundo, mas os educodores que estão em greve não estão com medo de polícia, não.- Então convoca o meu procurador e manda ele decretar a ilegalidade desta greve!- Já fiz isso, padrinho, e ele obedeceu direitinho. Pediu e foi atendido por um dos nossos desembargadores.- E Então?- E então que os subversivos dos educadores em greve, uma turma de um tal núcleo duro e outros mais, não obedecem a determinação do nosso desembargador.- Mas isso não pode ser. E a nossa imprensa? Tá pagando direitinho a nossa turma?- A nossa imprensa tá cumprindo o papel que nós determinamos. Mas, agora até uma parte da imprensa começa a noticiar as coisas. Acredita, padrinho, que uma emissora de TV transmitiu quase meia hora de protestos dos professores na nossa Casa homologativa?- Não pode ser, desse jeito você quer acabar com a minha candidatura. Não deixa isso espalhar para o país não, senão estou perdido.- Pois, é padrinho, até no Senado tem um colega seu falando sobre a realidade do nosso estado. E falando mal, dizendo que a Copa do Mundo, para nós, é mais importante do que a Educação e os educadores.- E é mesmo!- Eu sei que é, padrinho, mas não podemos dizer isso publicamente, senão não ganhamos nem mais uma eleição.- Claro, claro, mas, afilhado, nossos métodos de pressão para esvaziar as greves dos educadores não estão funcionando? Por que?- Não estão funcionando não, padrinho. Tem uma minoria de professores que fica com medo e retorna, mas, da maioria que entrou em greve ninguém mais quer voltar para a escola. E agora com essa tal de Internet, ninguém aguenta mais! Acredita que já criaram até um lema: "sem o piso, não pisamos na escola"? Já estão falando até em impeachment! E o pior é que essa greve já se arrasta por 108 dias, padrinho!!- O quê, 108 dias? Mas como pode uma coisa dessas? Como eu não fiquei sabendo disso antes?- É que o senhor viaja muito, padrinho, e não tem tempo para visitar sua terrinha boa, ordeira...- Ordeira, afilhado? Com 108 dias de greve, uma TV falando mal do nosso governo e você proibido de visitar qualquer parte do nosso território? Que ordem é essa?- Pois é padrinho, por isso estou te ligando, para pedir autorização para negociar e pagar o piso.- Pois faça logo isso. E por que você demorou tanto a tomar esta decisão? Você costumava ser mais rápido antigamente.- Sabe por quê, padrinho? É porque o piso vai custar R$ 2 bilhões ou mais. E isso vai atingir os nossos investimentos, entendeu, as obras, as obras, os empreiteiros, os nossos amigos, entendeu?- Ahhhhhh, entendi! Então não pode não. Meus amigos empreiteiros, banqueiros, os donos da mídia, os deputados, os desembargadores, meu procurador, meus jornalistas, esta turma não pode ser atingida não. Separa direitinho a parte dessa turma e com o que sobrar aí sim, você pode pagar o piso.- Mas, aí não sobra pra pagar o piso, padrinho. O máximo que eu consegui foi encaixar um subsídio pra essa turma, que já tá bom demais da conta pra quem é, mas eles não querem aceitar. Eu coloquei duas secretárias e uma subsecretária para ficarem o dia todo na imprensa falando bem do subsídio e mal do piso, mas não adiantou. Parece que a coisa até piorou. Aí eu mandei preparar uma peça publicitária, ao som de uma voz meio doce e derretida, com fundo musical e tudo mais, para sensibilizar o povão, mas nem assim adiantou. Não sei mais o que eu posso fazer, padrinho.- Faça o que tiver de fazer, mas não toca no quinhão reservado para minha campanha e para os meus amigos. Isso é intocável. Inventa qualquer desculpa: Lei de Responsabilidade Fiscal, falta de dinheiro em caixa, ameaça de não pagar o 14º, diz que vai haver atraso no pagamento dos servidores, que o 13º será parcelado, enfim, você é bom nisso!- Já fizemos isso tudo, padrinho, isso está no nosso manual, que cumprimos rigorosamente, lembra?, cada parágrafo. Já colocamos cara feia na TV, já ameaçamos de demissão, já cortamos salários, já reduzimos remuneração, já usamos a mídia, já conseguimos que o nosso procurador e um dos nossos desembargadores decretassem a ilegalidade da greve, enfim, já fizemos de tudo, padrinho. Mas, não está funcionando.- Mais que gentinha mais chata, essa turma da Educação pública, hein afilhado? Desse jeito vamos acabar privatizando toda a Educação.- Pois é, já teve até um dos nossos jornalistas propondo isso. Mas, a lei não deixa, né padrinho? A gente faz isso de forma indireta, com terceirização e outras formas de transferência para o eficiente setor privado, mas não dá pra privatizar tudo. É uma pena, pois meu sonho era este.- Eu sei, afilhado, o meu também. Eu sempre achei as coisas privadas mais eficientes. Não vê quando eu caí do cavalo? Fui logo atendido numa clínica privada, com especialistas capazes e com toda rapidez e eficiência. Já imaginou se eu dependesse do SUS ou do Ipsemg? Eu estava com as costelas quebradas até hoje!- Eu penso a mesma coisa, padrinho. E agora com estes baderneiros desses educadores que querem receber mais, só para dar umas aulinhas para um monte de pirralho das periferias... Que povinho esse, que gente que não sabe se colocar no seu devido lugar...- Mas, que assunto mais desagradável este, hein afilhado. Ainda bem que eu tenho uma viagem marcada para Paris, onde vou encontrar com meus amigos nas baladas das boates, e depois vou para Nova York, e finalmente vou para Ipanema, onde as casas noturnas me aguardam. Não quero nem ouvir falar nesse assunto chato.- Cuidado para não dirigir, padrinho...- E precisa me lembrar? Preocupa não que eu agora ando com um motorista particular 24 horas por dia.- E eu aqui estou andando com uma tropa de choque 24 horas por dia. A coisa aqui tá feia, padrinho. Volta logo pra me ajudar a resolver este problema.- Eu não! Eu quero é distância desta confusão. Minha preocupação agora tá num outro plano, bem mais alto. Quando você resolver tudo, aí você me avisa porque não estou com cabeça para este tipo de problema tão vulgar e pequeno.- Pode deixar, padrinho. Neste final de semana eu e minhas secretárias vamos nos reunir para pensar o que fazer para acabar logo com esta greve maldita. E temos que ser rápidos porque as mobilizações populares estão aumentando. Agora já estão até criando colunas saindo de várias partes da Capital para se encontrarem na nossa assembleia homologativa.- Colunas, afilhado? Isso me lembra uma tal Coluna Prestes, que meu finado avô me contou certa vez que aquilo era coisa de comunista. Dá logo um jeito de resolver esse problema, pois daqui a pouco as atenções vão se voltar para o nosso território e isso não é bom para minha imagem. Pra sua imagem não tem problema não, mas pra minha tem. Se eu cair, cai todo mundo.- Eu sei, padrinho, eu sei, e pode deixar, padrinho, que nós vamos resolver tudo aqui. Mas, padrinho, você poderia fazer um discurso lá no senado nos defendendo...- TUM! TUM! TUM! TUM!Neste instante, ao que tudo indica, a linha caiu; ou teria sido desligada pelo padrinho, quando o afilhado pediu que ele o defedendesse no Congresso? Pelo visto, o padrinho do afilhado, que não é bobo é nada, não quer nem ouvir falar dos problemas de um certo território cercado por montanhas. E enquanto isso, o chão do território treme...

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